A
presidenta Dilma Roussef no dia 23 de maio desse ano assinou o Decreto
nº 8.243/2014, que institui a Política Nacional de Participação Social e
regula essa atividade juntamente com a implantação do Sistema Nacional
de Participação Social.
Uma decisão
tão importante para fortalecer e articular os mecanismos e as instâncias
democráticas, definindo o necessário diálogo entre a Administração
Pública e a sociedade civil provocou enorme oposição nos meios políticos
conservadores e reacionários. Não se tratou de uma simples objeção a
uma proposta que eles consideraram ilegal. A grande mídia, partidos como
o PSDB, DEM e seus satélites, parlamentares e alguns que se
auto-intitulam cientistas sociais, encararam o assunto como se
estivéssemos diante de um golpe de Estado. Sem o menor senso de ridículo
afirmam que é uma proposta “bolivariana” baseada nos conceitos
políticos do falecido Hugo Chávez. Pior ainda, afirmam tratar-se de uma
tentativa petista de romper com a estrutura institucional e política,
diminuindo os poderes do Legislativo e do Judiciário.
Fonte do Anderson
Sem
entrar no mérito da necessidade de alterações no arcabouço político
brasileiro, que esperamos ocorrer por meio de uma profunda reforma
política, entendemos que a feroz oposição ao Decreto 8.243/2014 é fruto
de concepções antipopulares e de uma visão elitista e reacionária de
alguns setores da sociedade brasileira. O que se pode dizer de
afirmações de que a aplicação da política de participação social é a
“sovietização” do Brasil? Pasmem, chegaram a esse ponto! Um fenômeno de
quase 100 anos atrás, na antiga Rússia czarista, em plena guerra externa
e civil, que provocou a estratégia política de “todo o poder aos
sovietes” (conselhos de operários, camponeses, soldadas e marinheiros)
teria sido a fonte inspiradora da proposta de participação social do
Brasil em 2014. É muita ignorância ou muita má-fé.
Um
argumento merece ser considerado, entretanto. De forma indireta,
sub-reptícia tentam contrapor a proposta do governo Dilma ao Estado
Democrático de Direito pelo qual tantos lutaram e enfrentaram a ditadura
militar. Ora, não se pode esquecer que a participação popular só é
possível na plena vigência do Estado de Direito, do império das leis e
da democracia. Ao mesmo tempo, a ação consciente e ativa da população
nos assuntos de governo é o melhor meio de aprofundar e fortalecer o
regime democrático.
A Constituição
Federal de l988 consagra a escolha eleitoral dos representantes como
forma efetiva de composição do poder do Estado, tanto no Executivo como
no Legislativo. Entretanto, a Carta Magna também propõe formas diretas
de participação social nas questões governamentais. Seja por meio de
Conferências temáticas e setoriais, encontros, ouvidorias, conselhos e
diversas outras ações que possibilitem a influência do povo nas questões
institucionais que sejam de seu interesse.
Não
se pode negar que em todo o mundo democrático observa-se um
desenvolvimento das formas diretas de ação política em detrimento
daquelas meramente representativas. A estrutura institucional
brasileira, desde a promulgação da Constituição de l988, acompanha esse
fenômeno. Não é à toa que o Decreto 8.243/2014 define o “reconhecimento
da participação social como direito do cidadão e expressão de sua
autonomia”.
A democracia, apesar de seu valor universal, não é um regime estático, acabado, alheia aos interesses e conflitos de classe, ao contrário, consubstancia-se na luta permanente entre os desejos populares, dos trabalhadores e dos segmentos desprivilegiados socialmente contra os interesses mesquinhos das classes dominantes. Superior à democracia representativa essa forma direta e participativa cria condições mais favoráveis às necessárias mudanças sociais e políticas. Uma simples análise da história atual indica que permanentemente, em todo o mundo, as democracias representativas estão continuadamente gerando formas de participação social e popular direta, aperfeiçoamento e aprofundando o regime democrático.
Àqueles
que estão sinceramente preocupados com as consequências da aplicação da
proposta de Dilma, podemos tranquilizá-los. Existe uma experiência
concreta. Vitória da Conquista, cidade polo do Sudoeste baiano, adotou
desde o início do governo de Guilherme Menezes em l997, formas
consequentes de efetiva participação social e popular. O início provocou
certa perplexidade na população e enorme hostilidade nos meios
conservadores e principalmente na Câmara Municipal da época. Durante a
implementação do Orçamento Participativo (OP), a maioria dos vereadores
alegava que essa modalidade direta subtraía poder do Legislativo, que
contrariava a vontade popular expressada por meio das eleições e que os
participantes do OP eram despreparados para discutir e definir os rumos
do município. Uma das consequências mais interessantes é que no decorrer
do processo participativo os vereadores também compreenderam a
legitimidade da pressão popular, isto é, aqueles que entenderam e
assimilaram o projeto. Aqueles que nunca o aceitaram pagaram o alto
preço de não conseguirem se reeleger.
Mas,
o governo participativo não se reduz à realização do OP. Também não se
pode esquecer os inúmeros conselhos setoriais e institucionais em pleno
funcionamento. O sistema representativo é insuficiente para atender as
necessidades e desejos das consideradas minorias. Apenas a participação
específica e autônoma desses segmentos consegue fazer sua voz e ação
alcançarem as estruturas governamentais. As lutas contra a homofobia,
pela igualdade racial, pelos direitos das pessoas portadoras de
necessidades especiais, pelas crianças e adolescentes, pelos dependentes
químicos, pelas mulheres, enfim, todos os extratos que são penalizados
pela desigualdade social e econômica, têm o direito de se organizarem e
lutarem por uma vida melhor e mais feliz. Além dessas especificidades, a
participação e o controle social são essenciais nas questões gerais
como saúde pública, educação, assistência social, habitação, transporte,
urbanismo, desenvolvimento econômico, meio ambiente, juventude e tantos
outros órgãos de participação social que têm se desenvolvidos em
Vitória da Conquista. A escolha dos componentes, delegados e
conselheiros populares é realizada de forma clara e aberta por meio de
eleições nas respectivas conferências e congressos.
Quais os resultados dessa forma de gestão de governo?
Primeiramente é evidente que Vitória da Conquista não se “sovietizou” e nem se transformou em um município “bolivariano”. A interação entre poder público e população alcançou um nível mais elevado, permitindo que a sabedoria e as aspirações populares encontrassem canais de influência e decisão. A informação direta tornou-se um elemento fundamental na elevação do conhecimento do cidadão e da cidadã. O governo municipal recebe cotidianamente as demandas sociais que, de certa forma, afligem o munícipe. Pode-se firmar que começa a coexistir o governo formal com elementos positivos de democracia direta. Não é uma forma de governar que elimina todos os conflitos e questões, longe disso, muitas vezes faz aflorar problemas cuja solução começa com o seu conhecimento. No entanto, sem dúvida, é um bom caminho. Não é incorreto considerar que boa parte do inegável sucesso do governo em todas as áreas deve-se ao aprofundamento da gestão democrática baseada na participação social e popular.
Primeiramente é evidente que Vitória da Conquista não se “sovietizou” e nem se transformou em um município “bolivariano”. A interação entre poder público e população alcançou um nível mais elevado, permitindo que a sabedoria e as aspirações populares encontrassem canais de influência e decisão. A informação direta tornou-se um elemento fundamental na elevação do conhecimento do cidadão e da cidadã. O governo municipal recebe cotidianamente as demandas sociais que, de certa forma, afligem o munícipe. Pode-se firmar que começa a coexistir o governo formal com elementos positivos de democracia direta. Não é uma forma de governar que elimina todos os conflitos e questões, longe disso, muitas vezes faz aflorar problemas cuja solução começa com o seu conhecimento. No entanto, sem dúvida, é um bom caminho. Não é incorreto considerar que boa parte do inegável sucesso do governo em todas as áreas deve-se ao aprofundamento da gestão democrática baseada na participação social e popular.
A proposta da presidenta Dilma Roussef de institucionalizar e incentivar a participação social nos assuntos de governo pelo Decreto nº 8243/2014 é altamente elogiável. Não ameaça e muito menos agride a democracia, ao contrário, significa importante aprofundamento democrático fornecendo melhores condições políticas para os trabalhadores e as camadas populares se organizarem e lutarem pelos seus direitos e fazerem valer sua voz e ação junto ao Estado.
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