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Seul,
Coreia do Sul – Mesmo com o aumento dramático de suicídios na Coreia do
Sul, o caso da viúva de 78 anos foi chocante a ponto de merecer atenção
na recente eleição presidencial e repercutir na mídia.
Em vez de tirar a própria vida em casa, silenciosamente, como muitos sul-coreanos o fazem, a mulher fez de sua morte um ato final de protesto público contra uma sociedade que, segundo ela, a abandonou. Ela bebera pesticida durante a noite em frente à prefeitura, após funcionários do governo suspenderem seus benefícios da assistência social, afirmando que não precisavam mais sustentá-la agora que seu genro havia encontrado emprego.
"Como podem fazer isso comigo?", perguntava no bilhete de suicídio que a polícia informou ter encontrado em uma bolsa perto de seu corpo. "Uma lei deveria servir ao povo, mas ela não me protegeu.".
A morte da idosa é parte de uma das estatísticas mais terríveis da Coreia do Sul: o número de pessoas com 65 anos ou mais cometendo suicídio, que quase quadruplicou nos últimos anos, tornando a taxa dessas mortes no país uma das mais altas no mundo desenvolvido. A epidemia é o contraponto do grande sucesso econômico da nação, que desgastou o contrato social confuciano que formou a base da cultura coreana há séculos.
Esse contrato foi criado na premissa de que os pais fariam quase qualquer coisa para cuidar de seus filhos – nos tempos atuais, esgotando as economias de suas vidas para pagar por uma boa educação – e depois terminar suas vidas sob os cuidados dos filhos. Nenhum sistema de Previdência Social era necessário. Casas de repousos eram raras.
Mas quando as gerações mais jovens e determinadas da Coreia do Sul se juntaram ao êxodo das fazendas para as cidades nas últimas décadas, ou simplesmente acabaram trabalhando mais arduamente no meio hiperconcorrido que ajudou a impulsionar o milagre econômico da nação, os pais foram, muitas vezes, deixados para trás. Muitos idosos agora vivem os seus últimos anos na pobreza, em áreas rurais que transmitem a sensação de melancolia das cidades-fantasmas.
Jean Chung/International Herald Tribune
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